Sexta-feira revela-se o primeiro dia de verdadeiro frio transmontano. Aquele frio que ameaça levar-nos o nariz e espalhar uma camada de gelo em tudo o que toca.
Depois de um périplo breve pelas lojas, quase a fechar, entro na pastelaria do costume, onde procuro conforto numa chávena de chá. Nos escassos minutos que separam o meu pedido da chegada do chá à mesa, abro o último livro de poesia do Eufrázio Filipe - Presos a um sopro de vento -, que, meia hora antes, vislumbrei na livraria e tratei de o "privatizar". Li, de um fôlego, vários poemas, entre os quais este que vos deixo.
"Sem muros nem amos"
As andorinhas chegaram mais cedo
ao seu ninho preferido
o de sempre
Os senhores do mundo
que não são senhores da vida
designaram dias
para todos os santos
criaram
não o dia das andorinhas
mas o dia da mulher
Na verdade dos desertos
há flores nas areias
mulheres que valem por si
atravessam oceanos
rasgam o chão
São as mulheres que amo
com asas
sem muros nem amos
Eufrázio Filipe, Presos a um sopro de vento, poética edições
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