quinta-feira, agosto 07, 2014

Comecei a fumar

Comecei a fumar para te pedir lume. Para arranjar um motivo. Para. Tens lume? Perguntei-te. Sim. Disseste. Levaste a mão ao bolso. Engatilhaste o zippo. Todo prateado. Abeiraste-te e fizeste concha com a mão direita. Eras canhoto, como o coração. Agora. Disseste. E levei o cigarro até à chama.
Já está. E sorriste. Importas-te que te acompanhe? Perguntaste. Não, Claro que não. Claro que não. Está frio. Disseste. E esfregaste as mãos. O cigarro sempre aquece. Sim. Tossi. Estás bem? Perguntaste. Estou muito bem. Óptimo. Disseste. E sorriste. Aquele café além é acolhedor. Não tomas nada? Um chá fazia bem à tosse. Perguntaste. E disseste. Sim, Um chá calhava bem. Estava mesmo a apetecer-me. Parece que adivinhei. Disseste. E aí sorri eu. Tomámos chá e de imediato fizemos planos de vida Que correram mal, imediatamente mal. Comecei a fumar para te pedir lume. Para passar o frio. Descobri que não viria a morrer Nem de cancro pulmonar, nem de amor, mas da própria morte, mal o lume se apagou e o café fechou as portas. Para sempre. Ana Salomé

3 comentários:


  1. Há motivos plenos de "sem-motivo".

    Beijo meu

    Lídia

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  2. Está visto: não vale mesmo a pena começar a fumar!

    Boa semana:)

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  3. Qualquer motivo é bom desde que nos traga alento.
    bj

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