terça-feira, novembro 26, 2013

Pretérito Perfeito (II)

Não sei com precisão há quanto tempo me tornei cúmplice de Vasco, a personagem central e narrador de Pretérito Perfeito, o último livro da Raquel Serejo Martins. Talvez tenha sido há um mês, talvez mais. Não que não goste do livro. Pelo contrário. Outras leituras - estas obrigatórias - têm-me permitido apenas um convívio espaçado com o Vasco, um homem de 33 anos, que tem da tenra juventude e da infância as memórias mais acesas, um homem que carrega a inocência dessas vivências e a fragilidade de alguém que sabe que tem os dias contados. Talvez por isso o sintamos, não homem, mas menino.
É pela voz do próprio Vasco que, desde as primeiras páginas, entramos na sua casa e seguimos até ao terraço, onde nos sentimos a salvo, na hora em que o sol se põe sobre o Tejo. São também as palavras deste homem-menino que nos conduzem pelo Outono de Lisboa ou pelos bares da moda de outros tempos, ou por outros lugares que a sua cultura e curiosidade evocam.
À medida que a narrativa se tece, uma vezes num estilo torrencial, outras ritmado, quase musical, tornamo-nos cúmplices de Vasco. Cúmplices das memórias, do seu quotidiano e - muito - da sua dor, do desespero, do vazio. Vasco deixa de ser, a certa altura, apenas a personagem, para ocupar o lugar do amigo de infância que, para nós, nunca deixa de ser menino e que não queremos perder. Chegamos, por isso, a desejar que os médicos se tenham enganado.

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