quinta-feira, abril 04, 2013

Até amanhã


Sei agora como nasceu a alegria, 
como nasce o vento entre barcos de papel, 
como nasce a água ou o amor 
quando a juventude não é uma lágrima. 

É primeiro só um rumor de espuma 
à roda do corpo que desperta,
sílaba espessa, beijo acumulado,
amanhecer de pássaros no sangue.

É subitamente um grito,
um grito apertado nos dentes,
galope de cavalos num horizonte
onde o mar é diurno e sem palavras.

Falei de tudo quanto amei.
De coisas que te dou
para que tu as ames comigo:
a juventude, o vento e as areias.

Eugénio de Andrade, Até Amanhã

3 comentários:

  1. Tudo tem o seu começo e a sua relevância, a qual, mesmo que à primeira vista irrelevante, se pode tornar em primordial.
    Abraço

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  2. Armando, assim é. :)

    Piedade, obrigada. :)

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