domingo, fevereiro 03, 2013

Do prazer de conversar


(Imagem de Ada Breedveld)

Gosto de conversar. Aqueles que me conhecem bem sabem que é verdade. Outros julgam-me de poucas palavras. Talvez alguns até pensem que eu não tenho opinião sobre as coisas. 
Lembro-me de gostar de uma boa conversa desde muito cedo. Tive amigas próximas, se a memória não me trai, desde o início da escola primária, com as quais, além de brincar, conversava. Recordo que, pouco antes disso, uma das minhas primas, que é mais velha seis anos, me confiava os seus segredos, que eu guardava com fidelidade. Na adolescência, era capaz de passar tardes inteiras a explorar os mais diversos assuntos, que iam das ilusões ou desilusões amorosas, à música ou à literatura, com algumas amigas e uma ou outra prima. Quando não tinha por perto as minhas mais fiéis confidentes, trocava com elas cartas quilométricas, que incluíam, por vezes, "top secrets" escritos em inglês, não fosse algum adulto mais curioso lê-los.
Actualmente, continuo a gostar de palavras, escritas ou faladas, a valorizar uma conversa de horas, num "face to face", mais do que qualquer conversa por telefone ou diálogo escrito num chat ou no Facebook.
Dou-me hoje conta de que as melhores conversas me têm acontecido, por norma, com pessoas, homens ou mulheres, com as quais senti, quando as conheci, uma quase imediata empatia. Acredito até que as amizades mais sólidas e mais longas se sustentam de longas e boas conversas, da capacidade de dizermos o que nos vai na alma sem temermos julgamentos ou de saltarmos de uns temas para os outros com facilidade e o mesmo prazer, do sermos capazes de desfiar  rosários de palavras e de ouvir os outros fazerem o mesmo, sem que isso nos canse. 
Mau sinal é quando nos apercebemos que nos faltam as palavras com alguém que julgávamos próximo e quando o silêncio começa a ser um constrangimento. Por norma, tal acontece com pessoas cujas relações se alimentaram de vivências quotidianas. Faltando estas, faltam as palavras.
Este texto é, de certo modo, uma homenagem àqueles que, como eu, prezam a amizade e uma boa conversa e com os quais tenho tido o privilégio de passar agradáveis momentos, daqueles que, findos, me deixam a repetir as palavras do Sérgio Godinho: "Hoje soube-me a tanto/ Portanto/ Hoje soube-me a pouco (...)".

2 comentários:

  1. "Acredito até que as amizades mais sólidas e mais longas se sustentam de longas e boas conversas, da capacidade de dizermos o que nos vai na alma sem temermos julgamentos ou de saltarmos de uns temas para os outros com facilidade e o mesmo prazer, do sermos capazes de desfiar rosários de palavras e de ouvir os outros fazerem o mesmo, sem que isso nos canse."

    Curioso! Poderia ter escrito isto. Assim mesmo, tal e qual!



    Um beijo

    ResponderEliminar
  2. Obrigada, Lídia pelas suas palavras. :)

    Um beijo e votos de boa semana.

    ResponderEliminar