(Trás-os-Montes)
Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
Não faz ruído senão com sossego.
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva
Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego...
Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece...
Não paira vento, não há céu que eu sinta.
Chove longínqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente...
Fernando Pessoa, Cancioneiro
Bom domingo!
ResponderEliminarDisfruta do cheiro a Primavera que hoje já se faz sentir.
Fernando Pessoa no Dia da Poesia... Nada mais natural.
ResponderEliminarBem escolhido, o poema.
L.B.
wandolas, obrigada!
ResponderEliminarUm bom resto de semana para ti, ainda que a chuva tenha voltado!
Bjs
Lídia, Fernando Pessoa é tão variado que encontramos sempre nele algo que se coadune com o dia ou connosco.
Bom resto de semana. :)