segunda-feira, janeiro 11, 2010

prazeres e desprazeres

(Porto, Outubro de 2006)
De tempos a tempos, canso-me da pacatez dos montes, da monotonia dos rostos conhecidos e parto rumo a uma cidade maior, em busca de novidades e de anonimato. Desta vez, o pretexto foi aproveitar os saldos. Dos saldos, nada. Novidades poucas. O anonimato foi quase total – sempre se esbarra com um qualquer conhecido que nos faz o favor de se fingir distraído e nos poupa o cumprimento, que assim se acrescenta e se torna mais afável para outro alguém que se revele mais merecedor. Gosto de andar nas ruas, sozinha, (quase) anónima, de sentir o pulsar da cidade, de observar rostos, de lhes adivinhar quotidianos, amores, desilusões, cansaços... Apraz-me revisitar os lugares dessa cidade que “primeiro se estranha e depois se entranha” ("surripiando" Pessoa) e que fizeram, em tempos, parte dos meus dias. Pelo contrário, a confusão das lojas, o amontoado de trapos, as esperas infinitas nas filas para as caixas, o despe-veste cansam-me, entediam-me, deprimem-me... Por isso, invariavelmente, troco os trapos por livros, filmes ou discos, mais raramente, por perfumes – frescos, estivais, ainda que seja Inverno.

3 comentários:

  1. Se não fossem os compromissos de sábado, quem te acompanhava era eu.
    Quem sabe um dia deste dê para fazer isso...

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  2. wandolas, quem dera que pudesses mais vezes, como noutros tempos! :)

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  3. Bela prosa, melhor pensamento. A pensar que só agora li...

    *

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