sexta-feira, janeiro 15, 2010

humanos ou animais?

Mas, nas primeiras horas, toda a gente pensava apenas em ganhar distância, e muito dolorosas decisões foram tomadas, quando se tratou de deixar para trás os moribundos. Não admira que a mulher piedosa que, por amor de três ou quatro filhos, abandonou um ferido no caminho, se tenha brevemente transformado numa assassina, para roubar comida. (...)
Lillias acompanhou-os. Sentiu fome, porém não esperaria que alguém lhe desse as sobras para comer (...), não despertaria bondades maternais. As mulheres tinham retrocedido nessas poucas horas até ao estádio em que as fêmeas conhecia as próprias crias pelo cheiro e o timbre do vagidos. (...)
Compreendeu que se tratava de roubar (...).
Hélia Correia, Lillias Fraser
A tragédia se, muitas vezes, desperta o melhor que há em nós, também pode acordar o nosso lado animal, o nosso instinto de sobrevivência que nos tolda o discernimento e nos priva de qualquer princípio de humanidade - como provam as imagens que nos chegam constantemente do Haiti.

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