domingo, maio 11, 2008

devaneios de domingo à noite

Ontem, na Invicta, depois de ter tomado o meu “cimbalino” perto da Brasileira e de ter entrado na Sousa Ribeiro, onde o funcionário da caixa me olhou como quem pensa “esta não tem pinta de artista”, para comprar uns “sketch books”, que, obviamente, não me servirão para esboçar nada a não ser umas frases mal alinhavadas, fui meter o nariz numa espécie de armazém da Bertrand, que fica a meio da Rua 31 de Janeiro. Um tanto perdida, passei os olhos pelas estantes, acabando por fixar a atenção num título da Doris Lessing – Amar de Novo. Tudo se conjugou (o menos de tudo foi o próprio título, confesso) para que o livro viesse parar às minhas mãos e à minha estante: o preço, o facto de não ter ainda lido nada desta prémio Nobel e o assunto resumido na contracapa – as paixões de uma mulher de sessenta e cinco anos por homens “escandalosamente” (não no sentido da condenação!) mais novos.
As relações que sobrevivem ou sucumbem à diferença de idades não são novidade, tanto na literatura como na vida. Numa e noutra, a situação é sempre mais penosa para as mulheres do que para os homens, talvez seja, por isso, menos comum ver o tema abordado na perspectiva feminina. As paixões das mulheres por homens mais novos redundam, salvo raras excepções, em decepção, sofrimento e ruptura. Ocorre-me Teresa , uma personagem de O Navegador Solitário, do João Aguiar, que, sendo uma professora na casa dos trinta anos, se apaixona e vive um amor escondido por Solitão, um adolescente, que absorve com sofreguidão tudo o que ela tem para lhe ensinar - da literatura, da música, do amor, da vida... Em A Catedral Verde, o segundo título de uma trilogia, o autor reitera o tema, ainda que de forma menos ostensiva. Na obra, o protagonista toma conhecimento, ao fim de muitos anos, através de cartas que herdou com a casa, que a Tia Geninha viveu, durante anos, um amor secreto por ele e que isso terá sido para ela, sem que ninguém o suspeitasse, motivo de grande sofrimento. Não sendo assunto de vital importância e que, por isso, me tire o sono, não deixo, no entanto, de me questionar sobre as razões que nos levam, homens e mulheres, a interessarmo-nos ou relacionarmo-nos com pessoas claramente mais novas ou mais velhas. A literatura - como cinema, aliás - apresenta as situações, mas não explora os motivos, ou seja, não apresenta respostas conclusivas. Quando o nosso interesse se projecta nos mais novos, pretenderemos, ainda que inconscientemente, recuperar a juventude que perdemos ou resgatar a energia e a loucura que associamos à juventude? Estaremos, sem que o percebamos, a expressar uma recusa em envelhecer? E nos mais velhos, o que buscamos? Experiência? Sabedoria? Serenidade? Protecção? Todas estas teorias, que, na verdade, não passam de devaneios meus, caem por terra se pensar que a idade nem sempre é condição de maturidade nem, em alguns casos, de sabedoria ou de serenidade... Talvez esteja certa a máxima de que "o amor não escolhe idades" ou talvez devamos ter em conta as palavras de Fernando Pessoa - Alberto Caeiro quando diz " Porque quem ama nunca sabe o que ama/ Nem sabe por que ama/ Nem o que é amar. / Amar é a eterna inocência/ E a única inocência é não pensar." e deixarmos de procurar respostas onde não as há...

4 comentários:

  1. Uma mulher de 65 homens? Espero que não todos ao mesmo tempo. Nenhuma mulher merece tal catástrofe!

    ;-)

    Beijoca

    (a música está do melhor; já viste o filme?)

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  2. Hipatia, li e reli o texto e não vi o erro! É bem verdade que quatro olhos vêem bem melhor!

    Nalguns casos, um só homem já é catástrofe bastante!

    Não vi o filme porque não chegou cá - quando estiver em DVD -, mas já ouvi toda a banda sonora.

    Beijoca e votos de boa semana

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  3. Se tivesse começado pelo último já sabia q ñ tinhas visto o filme... espero q mexa contigo como aconteceu comigo... tantos ideiais, teorias, sonhos q acabaram num autocarro no Alasca ou + prosaicamente numa 'almofada de penas'...

    Qt ás diferenças de idade ñ consigo encontrar explicação, pq axo q procuramos sempre o diferente de nós, seja por opções de vida, pensamento, e a idade ñ é o factor determinante para mim, a diferença e a descoberta sim... seja em kem for...

    bjis

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  4. la rubia, fiquei com vontade de ver o filme desde que li uma entrevista com o Sean Penn. Depois que ouvi a banda sonora, a vontade aumentou, mas, como já referi, provavelmente não chega a estas bandas, senão daqui a algum tempo em DVD.

    Quanto à segunda questão, sou eu, como muito bem sabes, a divagar e estas divagações têm dias... Antes de tudo, essas "escolhas" talvez tenham a ver com afinidades, independentemente do factor idade.

    Beijocas

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