sexta-feira, abril 18, 2008

Inaugurei este dia em divertida cavaqueira, num bar, com os companheiros de cinema. A conversa prolongou-se, mais amena, em casa, com a minha vizinha - e amiga, sobretudo amiga -, que fez questão de trazer duas fatias de bolo, que acompanhámos com ginginha de Alcobaça. Preparo-me agora para quatro horas de sono, não sem antes postar um poema que me foi gentilmente oferecido pelo seu autor. Do resto do dia, sei, por enquanto, que vai ser de trabalho e de muita chuva. O resto se verá depois... O poema, então... 


Comum conviver 


conheci um dia na praia de Abrigados um barco cheio de redes brancas verdes fateixas ferros nós de cordame muitos objectos me eram alheios o esventrado barco ao sol em derrame eu colhi as redes nos olhos levei-as da praia vi sinais nas casas espelhando nas paredes o brio do calor muita gente de regresso muito andar preso muita gente parada vigiando as estradas só uma osga vibrando no rigor branco da cal aos meus olhos deram espanto e destemor uma osga pela encosta de um beiral era festa desdenhosa e de asco indeciso o réptil pressentia na sua casa branca a luz da noite acendida de dia no eixo horizontal pensei em grande festa curiosa as pessoas não olhando apaziguadas queriam no entanto para sempre no reino de réptil obscuro insurrecto luminoso escondido ancestral ali pedia-se a morte bem alto a osga formigando na parede avançando e parando um instante rindo delas as crianças o medo sentia-se no falar presente o asco o medo a surpresa o querê-la morta de rajada num ritual de gestos de olhos circundantes procuravam enterrá-la num chão fundo sem a guarda das surpresas mas o osga de cauda caída pisada continuava o seu trajecto pela parede da casa mais gente se desorganizava vendo o dorso belo reluzente o peito suposto branco ardente a cabeça ferida do calor causava náusea ao veraneante nasua fé de morta inaugural só depois erguiam os olhos ao céu ao sol vendo-se viver no interior da justeza deste mundo sem uma osga na parede irradiante exploradora com um moscardo certo no dorso pululante toda a tarde se falou do acontecimento toda a gente se levantou mais toda a fala cruzou eternidades toda a gente falou de seus inimigos naturais à noite na praia o firmamento cruzou-me com a morte na espessura do meu tempo soube-me mais infinito embora o soubesse há muito tempo
a osga formigando ou vista distraída no telhado folgava por entre telhas à cobiça das abelhas com o medo tão comum às quezílias partiam as famílias com o susto de quem gosta de matar por muito tempo se falou por não se ter o gosto de ver morrer sem pisar um réptil no seu comum viver 


(José Ribeiro Marto)

 Um bem haja ao poeta!

7 comentários:

  1. Olá, muitos parabéns, e que faças muitos e bons! :-)

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  2. Muito obrigada a todos!

    Eduardo, a "tua" ginginha estava óptima, mas... acabou!

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  3. O fim da ginja foi o começo da celebração!? Deves ter começado animada...!!! ;D

    Óptimo dia (q m desculpem a falta de 'acordo')....

    Bjis

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