terça-feira, dezembro 04, 2007


Desperto com a impertinente precisão do despertador. Num misto de irritação e sonambulismo, arrasto-me disposta a silenciar o electrónico inimigo, que abandono estrategicamente a uns metros - a proximidade torna-o objecto de sonho, por isso ineficiente.
De relance, olho a rua. A paisagem exibe um manto de opaca frieza, carente de contornos, propícia a misteriosas efabulações. Sinto-me em sintonia com essa indefinição exterior: pensamentos e sentimentos são ainda esboços de um desenho que há-de revelar-se em traços precisos - pressinto-o.

Pouso, de novo, os olhos na paisagem para além da janela - uma outra janela. Em frente, o manto opaco começa a desfazer-se numa fina camada de humidade que tudo toca - o asfalto, a relva, as árvores quase nuas de Outono. Fixo-me numa folha que, numa dança harmoniosa, se entrega ao chão, que a abraçará, até que um vento revolto e caprichoso lhe tire o sossego e a arraste com ele.

5 comentários:

  1. És uma criadora de imagens através das palavras.
    Gostei.

    Beijinhos.

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  2. quantos esperam esse vento revolto que lhes tire o sossego?


    ***

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  3. Que melhor apresentação poderia esperar do que este delicioso texto? Imaginação, sensibilidade e emoção reunidos em breves linhas. Fui além na curiosidade e detive-me no livro "um deus passeando na brisa da tarde". É o meu escritor preferido :)
    Irei aparecendo, seguramente
    Boa semana

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  4. Belo texto! que me vou abster de adjectivar, para não fazer má figura :-) as palavras não são o meu forte...

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