terça-feira, outubro 02, 2007

o que nos vem à memória

Ocorrem-me, não sei por que artes, nem por que manhas, histórias de família, que não tendo sido de fácil gestão pelos protagonistas e de "digestão" porventura mais difícil por quem as viveu de perto, sempre acirraram a curiosidade sobretudo dos mais novos. A primeira foi protagonizada por um casal de tios, que faleceram já em idade avançada. Conta repetidamente a minha mãe que esses tios, após o casamento, continuaram, por pudor, a viver nas respectivas casas paternas e que, quando o tio, em público, se aproximava para roubar um beijo à esposa, esta afastava-o, dizendo: "Chega-te pra lá, que podem ver-nos." Deduzo, do convívio com eles, que casaram por amor e talvez por amor, ou porque assim acontecia na época, tiveram dez filhos, de que só sobreviveram três raparigas. Por amor ou por razões que me escapam, casaram os meus avós maternos. Ela tinha 28 anos - já uma solteirona, à época -, ele 50. Antes disso, o meu avô, cujos olhos azuis e cabelo aloirado lhe davam um ténue ar de Paul Newman, estivera emigrado nos Estados Unidos, de onde trouxe algum dinheiro, que investiu em terras. Diz-se, inclusive, que, lá, foi pai de uma menina, que nunca deu notícias, mas de quem se conhece - a ser verdade - uma fotografia. Apesar da diferença de idades, criaram e viram casar seis filhos e nascer a maior parte dos dezanove netos. Parece-me sobretudo curiosa a história de uns tios que, tendo casado no início dos anos 60, se separaram alguns meses depois, sem ninguém ter conseguido apurar as verdadeiras razões, só as convenientes. Conheci-os, em momentos diferentes, num mesmo Verão da minha adolescência. Ela, que deixara, oficialmente, de fazer parte da família, comportava-se como se fosse - continuava a enviar cartões e lembranças pelo Natal e a tratar o meu avô por "pai" - , e nós, mesmo aqueles que nascemos depois da separação, tratávamo-la por "tia". O que é certo é que, aproximadamente 30 anos após a separação, voltaram a casar, tendo convidado para testemunhas os padrinhos do primeiro casamento, já velhinhos.

3 comentários:

  1. As vidas das nossas vidas... curiosas, algumas sem explicação, outras que só mais tarde acabamos por vir a suspeitar das suas razões.

    ;)*

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  2. Estas histórias são as melhores que há para contar. Porque são das verdadeiras! :)

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