Está hoje um dia de vento e eu gosto do vento
O vento tem entrado nos meus versos de todas as maneiras
e só entram nos meus versos as coisas de que gosto
O vento das árvores o vento dos cabelos o vento do inverno o vento do verão
O vento é o melhor veículo que conheço
Só ele traz o perfume das flores só ele traz a música
que jaz à beira-mar em agosto
Mas só hoje soube o verdadeiro valor do vento
O vento actualmente vale oitenta escudos
Partiu-se o vidro grande da janela do meu quarto
Ruy Belo
Somo ao poema de Ruy Belo que escolhi para ilustrar este domingo, em que, afinal, não há vento, um outro do mesmo autor que José Augusto Soares teve a gentileza de deixar na minha caixa de comentários.
Compreensão da árvore A tua voz edifica-me sílaba a sílaba e é árvore desde as raízes aos ramos Cantas em mim a primavera breve tempo e depois os pássaros irão povoar de ti novas solidões E eu sentirei na fronte permanentemente o sudário levemente branco do teu grande silêncio ó canção ó país ó cidade sonhada dominicalmente aberta ao mar que por fim pousas na fímbria desta tua superfície. Ruy Belo
Porque o deixou na minha caixa de comentários, assumi como uma espécie de oferta o poema do Nilson - espero que não te importes! -, que passo a transcrever e que aborda, ainda que indirectamente, a temática do vento, como primeiro de Ruy Belo.
O vento empurrou-te Para mim numa réstia de sol Matinal que descobriu Mais pombas que pardais Coladas ao teu corpo Cobre de pássaros da chuva miudinha. Afoguei-te na orgia Solarenga de bulícios de luzes. Engoliste golfadas De murmúrios de gestos apressados Abandonada No turbilhão de claridades inquietas. Despenteei-te com voos Rasos de ventos enrolados de sombras. Possuí-te nua Na passadeira efémera, vermelha de desejo. Guardei-te na memória impressa futura Para que de mim estejam perto As pombas Os pássaros A chuva miudinha Fixadas no cobre do teu corpo descoberto.
Compreensão da árvore
ResponderEliminar"A tua voz edifica-me sílaba a sílaba
e é árvore desde as raízes aos ramos
Cantas em mim a primavera breve tempo
e depois os pássaros irão
povoar de ti novas solidões
E eu sentirei na fronte permanentemente
o sudário levemente branco do teu grande silêncio
ó canção ó país ó cidade sonhada
dominicalmente aberta ao mar que por fim pousas
na fímbria desta tua superfície."
Ruy Belo
Gostei dos poemas do "mestre" Ruy Belo.
ResponderEliminarA propósito do vento, deixo-te um poema que escrevi há pouco mais de um ano (não me lembro se o leste...):
O vento empurrou-te
Para mim numa réstia de sol
Matinal que descobriu
Mais pombas que pardais
Coladas ao teu corpo
Cobre de pássaros da chuva miudinha.
Afoguei-te na orgia
Solarenga de bulícios de luzes.
Engoliste golfadas
De murmúrios de gestos apressados
Abandonada
No turbilhão de claridades inquietas.
Despenteei-te com voos
Rasos de ventos enrolados de sombras.
Possuí-te nua
Na passadeira efémera, vermelha de desejo.
Guardei-te na memória impressa futura
Para que de mim estejam perto
As pombas
Os pássaros
A chuva miudinha
Fixadas no cobre do teu corpo descoberto.
Beijos.
"O vento actualmente vale oitenta escudos
ResponderEliminarPartiu-se o vidro grande da janela do meu quarto" - esta ironia está 5 *****
Obrigada, nilson, por teres partilhado o teu poema. Terá lugar junto dos de Ruy Belo.
ResponderEliminararaj, gostei de todo o poema, mas penso que os dois últimos versos foram decisivos para que o escolhesse.
amadis, boa semana Bj
sonia, obrigada. Bom dia. bjs
Bom dia Deep!
ResponderEliminar...pessoalmente prefiro o da árvore. É que aqui está uma ventania insuportável... como muitas vezes acontece. E o pior é quando o imbecil do vento fustiga com uma chuva idiota...
Bjicos
Sou da terra do vento escultor, especialista em esculturas efémeras.
ResponderEliminarSou da terra do vento cantor, de baladas, daquelas que até as árvores dançam.
Sou da terra do vento dançante que faz piruetas ao largo do mar.
Sou da etrra do vento que me empurra a descobrir novos mundos, e o teu, é sempre muito agradável.