quarta-feira, outubro 18, 2006
poema de um funcionário cansado
A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
(...)
sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal
em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado de um dia exemplar
Porque não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Porque me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço?
(...)
António Ramos Rosa, O Grito Claro
Depois de ter postado o poema, ao visitar o Hotel de Gardona, soube que ontem foi o dia do aniversário de A. Ramos Rosa...
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Até eu minha amiga, até eu! Somos todos funcionários cansados desta vida de débito, crédito, débito.
ResponderEliminarParabéns então para o António Ramos Rosa por nos homenagear!
Saudações infernais!
Muitos nos identificaremos com o funcionário. Muitos estamos (como eu neste momento) com o olho na gaiola do quintal.
ResponderEliminarnada ilustra tão bem a cor dos dias destes funcionários cansados deste país!! :(
ResponderEliminarParabéns ao A.R.Rosa
Beijo pra tu